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quinta-feira, junho 24, 2004


Poesia do mundo (6)


Do poeta aragonês Chusé Inazio Nabarro in Sonetos d'amor e guambra, Uesca, 2001

L'aire més transparén, a flor més rara


A muerte te prolargo, te dilato...
Idioma milenario. Blanga nieu
que se regala en l'alto Perineu.
Urmo negro de trallo religato.

Á la fin més perdié que'n he trobato.
A bita (que, en durando, ye tan breu)
da las bocadas... Como un nuebo Orfeu,
yo canto chustamén o que tresbato:

L'aire més trasparén, a flor més rara.
A copa que en a mía man debanto.
O chirumen, o peltro, a zitara.

A luenga que o mío canto dize.
L'azento, l'idioma en o que canto.
Os labios fuyidizos d'Euridize!

Tradução em português de algumas palavras:

Breu - Breve
Chirumen - Estro, inspiração.
Guambra - Sombra
He trobato - Encontrei
Luenga - Língua
Nieu - Neve
Regalar - Derreter
Religato - Retorcido
Trallo - Tronco
Tresbato - Perco
Urmo - Olmo
Peltro - Plectro (haste com que se toca cítara)
Prolargar - Adiar

Nota: Em aragonês, a letra "z" corresponde a uma consoante surda, próxima do "ç" transmontano.

sábado, junho 12, 2004


ENSINO (3)



Crónica de Fel


(Crónica emitida pela TSF em 17/05/2004 no programa "Mel com
fel")

Amadeu Ferreira


Nos últimos dias, tem o senhor Presidente da República chamado a atenção para a grave situação do ensino em Portugal.
Também grave é a situação do ensino da língua mirandesa, tendo em conta que ao ensino cabe a principal missão de defender e preservar essa língua oficial de Portugal, como tal reconhecida com a lei nº 7/99.
Desde o ano lectivo de 19985/86 que a língua mirandesa é ensinada na Escola do 2º Ciclo de Miranda do Douro. Só no ano 2000 esse ensino se estende às escolas do 1º e 2º ciclos de Sendim e, em 2003, à Escola Secundária de Miranda do Douro.
Em nenhum dos casos a iniciativa da leccionação pertenceu ao Ministério da Educação, nem este organismo alguma vez tomou a iniciativa de apoiar a formação de professores, de dinamizar a feitura de manuais ou de, por qualquer forma, promover o ensino da língua mirandesa. No entanto, é essa a incumbência que a lei lhe atribui.
Porém, a gravidade da situação não se resume à mera inércia do Ministério da Educação: a verdade é que este organismo não faz nem deixa fazer. Senão vejamos:
- o Ministério da Educação nem se digna dar resposta às propostas de ensino que lhe são apresentadas por professores ou estes são afastados sem qualquer justificação depois de leccionarem em anos anteriores;
- desde há dois anos a carga horária da disciplina de língua mirandesa passou de duas horas para uma hora semanal;
- os professores passam a ser colocados quase nas vésperas do Natal, numa altura em que os alunos já não têm qualquer disponibilidade horária para se inscrever na disciplina;
- sendo uma disciplina de opção, é considerada como não curricular e atirada para os piores horários, num claro desincentivo aos alunos quanto à escolha da disciplina;
- os professores, dado o pequeno número de horas atribuído, passam o tempo a correr de aldeia em aldeia, mal dando o pagamento daquelas horas para suportar as deslocações – note-se que estamos a falar de dois professores, que não podem ser responsabilizados pelas dificuldades orçamentais do país;
- há escolas com alunos inscritos nas aulas de mirandês e, no entanto, nunca chegaram a ter professor colocado.
Estamos a falar de uma região pobre, em processo de desertificação e deprimida economicamente. A conclusão de tudo isto parece-me clara:
Alguém anda a brincar com os mirandeses e, em particular, com os jovens mirandeses. Quem?
Os responsáveis têm nome: o Director da Educação Regional do Norte, o coordenador da Área Educativa do Distrito de Bragança e, pasme-se, a Câmara Municipal de Miranda do Douro.
Não acredito que o Senhor Ministro da Educação tenha conhecimento desta situação. Sendo o responsável político da área, justifica-se a sua intervenção.
Passaram 30 anos desde o 25 de Abril. A falta de respeito pela diversidade linguística, consagrada na lei e proclamada na Constituição Europeia, mostra que a nossa democracia ainda tem muito caminho para andar. Não temos dúvidas: a atitude face ao mirandês, a tolerância face à diversidade, não pode deixar de ser um dos barómetros da saúde da nossa democracia. E, neste capítulo, a saúde não anda bem.


quarta-feira, junho 02, 2004


Poesia do mundo (5)



Do poeta aragonês Chusé Inazio Nabarro in En esfensa de as tabiernas y atros poemas , Uesca, Publicazions d'o Consello d'a Fabla Aragonesa, 1998, p. 38, 39.

Ubi sunt? II /chiquet manual de cheografía lingüistica



¿qué se fizo d'a biella fabla d'ansó? silabas dulzas como magorías, esautas como dallas, ¿ta dó fueron as calidas charradas de puchó?

¿dó ye l'aragonés de campo chaca? parolas enrestidas. lupos zerbals que fuyón por os bosques de o silenzio ¿en dó son? ¿alcaso entre os bersos de chusé grazia s'amagón?

¿dó ye l'aragonés de ballibió? biello idioma de loiras y paxarelas... armiella biella d'ista cadena que se crepa. ¿án campas, bergotés? os tuyos fabladores, ¿en dó son?

alta luenga de bal de bielsa. di-me ¿qué se fayó de os tuyos biellos fonemas d'amor? negras salamanquesas ¿sapen ya, barré, os tuyos bocables nabesar per o fuego y per as flamas? falcatas de parolas atalbuxatas. sonora fabla de trangas y madamas. ¿d'eras qué se fayó?

en dó son os fonemas moredizoa de a solana? xanobas y burgasé: !quí tos bido y quí tos bei! gramatica de chargas y marueños ¿en dó yes? bozes que redoloron como bolos por foscos ríos sin ritorno ¿en dó sez?

Tradução em espanhol:

[

ubi sunt? II (pequeño manual de geografía lingüística)



¿qué se hizo de la vieja lengua de ansó? sílabas dulces como fresas, exactas como guadañas. ¿adónde fueron las cálidas conversaciones con puchó?

¿dónde está el aragonés del campo de jaca? palabras acosadas. linces que huyeron por los bosques del silencio ¿dónde están? ¿acaso entre los bersos de chusé grazia se ocultaron?

¿dónde está el aragonés del valle de vió? viejo idioma de nutrias y mariposas... viejo eslabón de esta cadena que se rompe. ¿en dónde paras, bergotés? tus hablantes ¿dónde están?

alta lengua del valle de bielsa. dime ¿qué se hizo de tus viejos fonemas de amor? negras salamandras ¿saben ya, barré, tus vocablos recorrer el fuego y las llamas? manojos de palabras recopiladas, sonora lengua de trangas y madamas. ¿de ellas qué se hizo?

¿dónde están los fonemas mortecinos de la solana? jánobas y burgasé: !quién os vio y quién os ve! gramática de zarzas y de ruinas ¿dónde estás? voces que rodaron como cantos rodados por turbios ríos sin retorno ¿dónde estáis?...]

[Nota: trangas y madamas son personajes típicos del carnaval de Bielsa. Las trangas lucen piel y cuernos de macho cabrío, llevan la cara tiznada y portan largos palos (algo así como en las lupercales romanas). Las jovencitas visten de madamas, esto es, con trajes de puntillas adornados con cintas] .
(Nota e tradução espanhola do próprio autor).

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